terça-feira, 23 de abril de 2019

Alergia Alimentar, Como Identificá-la?




A Alergia Alimentar é uma Reação Adversa a determinado alimento. Envolve um mecanismo imunológico e tem apresentação clínica muito variável, com sintomas que podem surgir na pele, no sistema gastrintestinal e respiratório. As reações podem ser leves, como uma simples coceira nos lábios até reações graves que podem comprometer vários órgãos. A Alergia Alimentar resulta numa resposta exagerada do organismo a determinada substância presente nos alimentos.

O que é Reação Adversa a Alimentos? 

É qualquer reação indesejável que ocorre após ingestão de alimentos ou aditivos alimentares. Estas podem ser classificadas em reações tóxicas e não-tóxicas. As reações não-tóxicas podem ser de Intolerância ou Hipersensibilidade.

Exemplo de reação não-alérgica são as reações por ingestão de alimentos contaminados por microrganismos. Estas se apresentam agudamente com febre, vômitos, diarreia e geralmente acometem várias pessoas que ingeriram os alimentos contaminados.

A Intolerância à Lactose é uma reação alérgica?


A intolerância à lactose é uma desordem metabólica onde a ausência da enzima lactase no intestino, determina uma incapacidade na digestão de lactose (açúcar do leite) que pode resultar em sintomas intestinais como distensão abdominal e diarreia. Esta intolerância geralmente é dose dependente e o indivíduo pode tolerar pequenos volumes de leite por dia ou se beneficiar dos leites industrializados com baixos teores de lactose. Portanto, a Intolerância à Lactose não é uma Alergia Alimentar, apesar de frequentemente confundida pelos familiares e profissionais de saúde. Torna-se importante esta diferenciação, pois a orientação nutricional é distinta. Enquanto na intolerância à lactose, eventualmente, é possível ingerir pequenas quantidades de leite, na Alergia às proteínas do leite, a alimentação não deve conter leite ou derivados.

Qual a prevalência da Alergia Alimentar?

Estima-se que as reações alimentares de causas alérgicas verdadeiras, acometam 6-8% das crianças com menos de 3 anos de idade e 2-3% dos adultos.

Os indivíduos com outras doenças alérgicas apresentam maior incidência de Alergia Alimentar? 

Pacientes com doenças alérgicas apresentam uma maior incidência de Alergia Alimentar, sendo encontrada em 38% das crianças com Dermatite Atópica e em 5% das crianças com quadro de asma.

Quais os fatores envolvidos na Alergia Alimentar? 

A predisposição genética, a potência antigênica de alguns alimentos e alterações a nível do intestino parecem ter importante papel. Existem mecanismos de defesa principalmente a nível do trato gastrintestinal que impedem a penetração do alérgeno alimentar e consequente sensibilização. Estudos indicam que de 50 a 70% dos pacientes com Alergia Alimentar possuem história familiar de alergia. Se o pai e a mãe apresentam alergia, a probabilidade de terem filhos alérgicos é de 75%.

Quais os alimentos mais frequentemente envolvidos na Alergia Alimentar?


Qualquer alimento pode desencadear reação alérgica. No entanto, leite de vaca, ovo, soja, trigo, peixe e crustáceos são os mais envolvidos. A sensibilização a estes alimentos (formação de anticorpos IgE) depende dos hábitos alimentares da população. O amendoim, os crustáceos, o leite de vaca e as nozes são os alimentos que com maior frequência provocam reações graves (anafiláticas).

Os alimentos podem provocar reações cruzadas, ou seja, alimentos diferentes podem induzir respostas alérgicas semelhantes no mesmo indivíduo. O paciente alérgico ao camarão pode não tolerar outros crustáceos. Da mesma forma, pacientes alérgicos ao amendoim podem também apresentar reação ao ingerir a soja, ervilha ou outros feijões.

E quanto aos corantes e aditivos alimentares? 

As reações adversas aos conservantes, corantes e aditivos alimentares são raras, mas não devem ser menosprezadas. O corante artificial tartrazina (FD&C amarelo#5), sulfitos e glutamato monossódico são relatados como causadores de reações. A tartrazina pode ser encontrada nos sucos artificiais, gelatinas e balas coloridas enquanto o glutamato monossódico pode estar presente nos alimentos salgados como temperos (caldos de carne ou galinha). Os sulfitos são usados como preservativos em alimentos (frutas desidratadas, vinhos, sucos industrializados) e medicamentos tem sido relacionado a crises de asma em indivíduos sensíveis.

Quais as principais manifestações clínicas da Alergia Alimentar?   

São mais comuns as reações que envolvem a pele (urticária, inchaço, coceira, eczema), o aparelho gastrintestinal (diarréia, dor abdominal, vômitos) e o sistema respiratório, como tosse, rouquidão e chiado no peito. Manifestações mais intensas, acometendo vários órgãos simultaneamente (Reação Anafilática), também podem ocorrer.

Nas crianças pequenas, pode ocorrer perda de sangue nas fezes, o que vai ocasionar anemia e retardo no crescimento. Sintomas nasais isolados não são comuns.  


Como tratar a Alergia Alimentar? 

Até o momento, não existe um medicamento específico para prevenir a Alergia Alimentar. Uma vez diagnosticada, são utilizados medicamentos específicos para o tratamento dos sintomas (crise) sendo de extrema importância fornecer orientações ao paciente e familiares para que se evite novos contatos com o alimento desencadeante. As orientações devem ser fornecidas por escrito visando a substituição do alimento excluído e evitando-se deficiências nutricionais até quadros de desnutrição importante principalmente nas crianças. O paciente deve estar sempre atento verificando o rótulo dos alimentos industrializados buscando identificar nomes relacionados ao alimento que lhe desencadeou a alergia. Por exemplo, a presença de manteiga, soro, lactoalbumina ou caseinato apontam para a presença de leite de vaca. Todas as orientações devem ser fornecidas aos pacientes e familiares.

  
O que fazer caso venha ocorrer a ingestão acidental do alimento?

A exclusão de um determinado alimento não é tarefa fácil e a exposição acidental ocorre com certa frequência. Os indivíduos com Alergia Alimentar grave (reação anafilática), devem portar braceletes ou cartões que os identifiquem, para que cuidados médicos sejam imediatamente tomados. As reações leves desaparecem espontaneamente ou respondem aos anti-histamínicos (antialérgicos). Pacientes com história de reações graves, devem ser orientados a portar medicamentos específicos (adrenalina), mas torna-se obrigatório uma avaliação em serviço de emergência para tratamento adequado e observação, pois em alguns casos pode ocorrer uma segunda reação, tardia, horas após.

O paciente que apresenta reação a determinado alimento poderá um dia voltar a ingeri-lo?  


Aproximadamente 85% das crianças perdem a sensibilidade à maioria dos alimentos (ovos, leite de vaca, trigo e soja) que lhes provoca alergia alimentar entre os 3-5 anos de idade. O teste cutâneo permanece positivo apesar do aparecimento da tolerância ao alimento. A sensibilidade ao amendoim, nozes, peixe e camarão raramente desaparece.

Em alguns casos, principalmente nas crianças, a exclusão rigorosa do alimento parece promover a diminuição da alergia. O alimento deve permanecer suspenso por aproximadamente 6 meses. Após este período o médico especialista poderá recomendar uma reintrodução do alimento e observar os sintomas. Se o indivíduo permanecer assintomático e conseguir ingerir o alimento, o mesmo pode ser liberado. Caso ocorra qualquer sintoma, a dieta de eliminação deve ser mantida.


A presença de reação alérgica grave, como a anafilaxia ao amendoim, contra-indica esta reintrodução. Nos pacientes altamente sensibilizados, a presença de quantidades mínimas do alimento pode desencadear reação de extrema gravidade.

Existe algum meio de prevenir a Alergia Alimentar?

Algumas orientações devem ser dadas aos recém-nascidos de pais ou irmãos atópicos. O estímulo ao aleitamento materno no primeiro ano de vida é fundamental assim como a introdução tardia dos alimentos sólidos potencialmente provocadores de alergia. Recomenda-se a introdução dos alimentos sólidos após o 6º mês, o leite de vaca após 1 ano de idade, ovos aos 2 anos e amendoim, nozes e peixe, somente após o 3º ano de vida.  



Texto por Carlos Henrique Couto (Nutricionista)  


quarta-feira, 3 de abril de 2019

Por Que As Crianças Mentem?!


A mentira faz parte da sociedade, e nós pais e educadores sabemos como ela pode ser inofensiva ou totalmente nocivas para nós e para o nosso próximo.
Conseguimos identificar quais são as consequências que a mentira nos trás, mas como a mentira é vista e vivenciada pela criança?

Primeiramente precisamos compreender que a mentira faz parte do desenvolvimento infantil e ela é compreendida como fantasia, no início a criança ainda não sabe diferenciar a verdade da inverdade, com isso ela transfere para o seu cotidiano algo que se mistura realidade e um toque de criatividade. 

Como devemos compreender a mentira em cada fase do desenvolvimento infantil:

2 a 3 anos: 

Nesse momento a criança confunde a fantasia com a realidade e é comum percebermos que ela não tem plena consciência do que é verdade ou não. Comumente as crianças nessa fase mentem ao contar uma historia que aconteceu no cotidiano delas por exemplo, onde os pais e educadores percebem claramente que na história contada tem de fato elementos que aconteceram e outros que provavelmente se mistura com a fantasia. 
Nesse momento nós pais e educadores precisamos mostrar claramente para a criança que nem toda a historia é verdadeira, tentando fazer as conexões necessárias entre realidade e fantasia.
Uma ótima dica nesse fase é introduzir livros que irão auxiliar no entendimento sobre mentiras de uma forma lúdica.

4 anos

Nesse momento a criança já tem uma compreensão verbal mais avançado e também começam a mentir com maior frequência. Com isso, devemos intervir de forma clara e objetiva explicando porque mentir é ruim e estimular sempre a honestidade.

5 a 8 anos:

Nessa fase é comum observarmos que as mentiras estão comumente relacionadas a escola, os amigos , professores e tarefas, e a maior motivação nesse momento é contar vantagem sobre algo, escapar de alguma tarefa da escola ou até mesmo para testar até onde ele consegue mentir sem que ninguém perceba.
Cabe a nós pais e educadores, intervir sempre que percebermos que estão mentindo. Sempre incentivando o diálogo e passando segurança para que eles possam sempre contar a verdade, assim nós poderemos corrigir a mentira e também parabenizar o ato de terem contado a verdade. Isso irá incentivá-los a sempre contarem a verdade.

9 a 12 anos:

Nesse momento essas crianças já compreendem o sentido real da verdade e da mentira e também já conhecem o significado de honestidade. 
Porém, elas possuem capacidade de mentir e sustentar a mentira com mais facilidade, com isso a intervenção dos pais e educadores também são mais compreendida por eles. 
Vale a pena sempre manter um canal aberto para conversa, onde poderão falar abertamente sobre as consequências da mentira e sobre a importância de serem confiáveis seja em seu meio familiar, na escola, com os amigos ou em qualquer outro ambiente em que estão inseridos.

10 Dicas para incentivar a honestidade:


  1. Diferencie a fantasia infantil da mentira;
  2. Não faça vista grossa à mentira, converse com a criança todas as vezes que perceber que mentiu;
  3. Conte histórias sobre a mentira e honestidade (darei dicas de livros no fim do texto);
  4. Elogie seu filho se ele reconheceu que mentiu e contou a verdade para você;    
  5. Em casos de mentiras do mesmo tema de forma recorrente, procure entender porque ele está mentindo sempre pelo mesmo motive e busque ajuda de profissionais para solucionar esse problema em especial;
  6. tenha conversas sinceras sobre a honestidade e sobre as consequências positivas que ela proporciona;
  7. Não rotule seu filho como mentiroso, isso irá prejudicar o processo de compreensão a respeito da verdade e irá incentivá-lo a continuar mentindo;
  8. O maior exemplo sempre seremos nós, por isso não minta para ele, mesmo que pense ser uma mentira leve, como por exemplo quando pede para ele dizer que não está em casa para não atender uma ligação, ou por exemplo, quando o incentive dizer que gostou de um presente que na verdade ele não gostou. Apenas ensine a agradecer pela boa intenção que a pessoa teve em presenteá-lo.
  9. Não reaja agressivamente à mentira;
  10.   Enfim, faça a criança perceber que vale a pena sempre falar a verdade, que mesmo que tenha que enfrentar as consequências de suas ações, ela terá todos os méritos que a honestidade proporciona.

Dicas de leituras infantis sobre mentira e honestidade:




BANDEIRA, Pedro. Alice no pais da mentira.São Paula: Editora Moderna, 2016.

BANDEIRA, Pedro. A mentira cabeluda. São Paulo: Editora Moderna, 2012.

COCCA-LEFFLER, Maryann. A princesa Bia e a mentira que cresceu. Blumenau, Todolivro, 2016.

VASCONCELLOS, Cecília. Nas pernas da mentira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.

KRALJIC, Helena. Como a mentira cresce. São Paulo: Bicho Esperto -  Rideel, 2013.